segunda-feira, 27 de junho de 2011

Memorial de Aires


Memorial de Aires, uma quase biografia machadiana

O Conselheiro Aires, diplomata aposentado, escreveu seu memorial, falando das suas relações mais próximas, que são o casal Aguiar, a irmã Rita, o Desembargador Campos e sua sobrinha viúva [Fidélia].

O Conselheiro Aires, homem marcadamente polido e estóico [rígido], dá claras evidências de sua paixão por Fidélia, mas nunca tem coragem de revelar-se, pois acha-se então com sessenta e dois anos e ela, uma mulher jovem. O conselheiro, faz questão de extremar nos detalhes e conta de seu relacionamento com o casal Aguiar.

O casal Aguiar não teve filhos, mas têm em Fidélia, uma jovem viúva e em Tristão, um afilhado, verdadeiros filhos, ou seja, há uma consideração evidente para com eles por parte do casal. Com a volta do rapaz, a afeição vê - se reanimada.

Fidélia, viúva há aproximadamente dois anos, recolhera - se em seu mundo, afastada do convívio social, junto a seu tio, o desembargador Campos. Seu casamento contrariara o pai - Barão de Santa Pia - que era inimigo político do pai de Noronha [seu marido]. Dessa forma, a jovem, com a morte do marido, acabara por ficar junto ao tio, no Rio de Janeiro, não tendo condições de voltar ao convívio paterno, na fazenda, pois as relações continuavam estremecidas.

Ninguém julgava que Fidélia pudesse voltar a se casar, porem Tristão, aos poucos, conquista - a, trazendo - a de volta aos seus entretenimentos: a música e a pintura.

O romance agrada ao casal Aguiar, que apoiam o casamento, um tanto esperançoso de que os jovens continuariam com eles. Casados, e depois da lua de mel em Petrópolis, Fidélia e Tristão acabam voltando para a Europa, pois, em Portugal, o rapaz candidatara-se a deputado.

Novamente, o velho casal Aguiar encontra-se sozinho, amargando a saudade dos filhos postiços.

A narrativa do Memorial abrange os anos de 1888 e 1889. Machado de Assis, mestiço e discretamente abolicionista, registra com simpatia, sempre através das palavras atenuadas de Aires, o momento em que a Abolição da Escravatura é concretizada.

Contrariando aqueles que acusam Machado de Assis de nunca ter se envolvido com a questão escravista, as palavras de Aires em relação à Abolição fogem ao seu estilo sempre tão comedido e diplomático. Revelam, portanto, o autor atrás do narrador. Através de Aires, Machado de Assis deixa seu testemunho sobre a escravidão. As declarações convictas do conselheiro não deixam dúvidas quanto a seu envolvimento emocional com a questão.

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